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Ela amou e o mundo não perdoou

  • Foto do escritor: Marcelly Silva
    Marcelly Silva
  • 14 de jun.
  • 6 min de leitura

Atualizado: 21 de out.

*texto escrito por humana


O que acontece quando uma mulher de 40 anos ousa se apaixonar por um homem mais jovem?


Quais as culpas, julgamentos e vergonhas impactam na experiência de amor quando se faz o contrário do que se espera de você?


Neste episódio do Podcast Morada do Sentir, vamos pensar sobre envelhecer e permissão para amar. A partir da história de Solène e Hayes no filme Uma Ideia de Você, vamos refletir sobre as cobranças sociais e julgamentos em torno da felicidade feminina e da vivência plena do seu sentir


Uma Ideia de Você é um filme adaptado do livro de mesmo nome escrito por Robinne Lee. O filme traz a história de Solène, uma mulher de 40 anos --- divorciada e mãe de uma adolescente, que acaba acidentalmente conhecendo Hayes --- um homem de 24 anos, vocalista de uma boy band mundialmente famosa. Uma curiosidade é que a filha de Solène e os amigos dela são fãs da banda de Hayes.


Solène e Hayes, logo que se encontram, sentem uma atração um pelo outro. Ele, imediatamente, se conecta com o que estava sendo mobilizado nele a partir do contato com a Solène. Mas, ela fica um pouco reticente. E me dá a sensação de que ela estava meio confusa quanto ao que estava acontecendo ali --- sem entender muito bem o interesse daquele jovem por ela.


Após esse primeiro contato, depois de alguns dias, ele aparece na galeria de artes dela, procurando por ela.


Nesse segundo momento, quando eles puderam ter um contato mais próximo, mais demorado, foi fácil perceber que ele estava ali tentando conhecê-la --- querendo declaradamente se conectar com ela. Ela, no entanto, mantinha uma distância de segurança. Solène ficou muito apegada à diferença de idade entre eles. Inclusive, ela chega a falar para ele: “sou velha demais para você, eu poderia ser sua mãe”.


Logo Podcast Morada do Sentir

Essa crítica que Solène faz é um retrato social bastante conhecido. Na nossa cultura, homens mais velhos que se relacionam com mulheres bem mais jovens é naturalizado e aceito. E quando o contrário acontece, os julgamentos aparecem instantaneamente --- e de diversas formas: nos olhares tortos, nas falas acusativas e violentas, no isolamento social e outras.


Estas posturas intolerantes aparecem a partir das falas preconceituosas que escutamos ao longo da vida, direta ou indiretamente - e internalizamos como se fosse também o que pensamos a respeito.


No caso de Solène, por exemplo, ela chegou a falar para Hayes que eles não combinavam - mesmo enquanto acontecia algo significativo entre eles. Dá para ter uma ideia do que ela estava considerando que fosse uma incompatibilidade entre eles quando ela diz: “e o que as pessoas vão falar?” --- era essa a preocupação dela.


A história do casal de Uma Ideia de Você vem para nos dar uma sacudida e para nos mostrar que pessoas se conectam com pessoas --- desde que sejam adultas, isso é independente da idade.


A diferença de idade entre o casal do filme não impediu que acontecesse uma conexão. E mais do que uma química, havia entre eles uma sintonia, uma afinidade. E à medida em que eles foram se conhecendo, foi aumentando o interesse e admiração que tinham um pelo outro.


Era evidente o quanto aquele encontro deles era precioso. E me chamou a atenção perceber que Solène não se permitia viver esse encontro por causa de toda a carga social em torno daquele pequeno detalhe --- que era diferença de idade, mas que era visto por ela como a questão principal de impedimento dessa vivência plena do encontro.


Hayes, diferente de Solène, se mostrou, a todo momento, muito decidido quanto ao seu interesse em manter um contato com ela. Tanto que ele a convidou para viajarem juntos durante a turnê da banda dele. Solène exitou um pouco, mas acabou aceitando.


Durante esta viagem, foi importante uma cena em que Solène está interagindo com os amigos de Hayes --- todos da mesma faixa etária que a dele, e ela se sente constrangida, deslocada e até mesmo desinteressante diante de moças mais jovens. E foi muito desanimador e triste assistir a discriminação dos amigos dele com ela --- por ela ser uma mulher de 40 anos naquele contexto.


Depois dessa cena clara de etarismo, chega o limite para a Solène - e ela decide ir embora. Enquanto Hayes tentava convencê-la a ficar, foi muito forte para mim quando ele enfatizou: “você nunca nos deu uma chance” --- e ela, então, admitiu que sentia vergonha.


Card que faz referência ao filme Uma ideia de você

Junto a esses acontecimentos, acabou saindo na mídia uma foto em que os dois foram flagrados juntos. E os ataques foram de muita crueldade.


O etarismo sofrido por mulheres ficou declarado com violência a partir dali:

  • nas manchetes sensacionalistas e depreciativas dos jornais e redes sociais,

  • nos assédios que Solène sofria por onde passava,

  • no espanto social escancarado frente ao fato de ela ser uma mulher mais velha se relacionando amorosamente com um astro pop mais jovem.


E no meio de tudo isso, tinha a filha adolescente de Solène. Foi muito tocante, para mim, a reação da filha dela quando soube de toda a história. O que a chateou foi a sua mãe ter escondido dela o que estava acontecendo e não o fato de a mãe estar se relacionando com um homem mais jovem. Tanto que a filha apoiou a Solène --- e a incentivou a assumir o relacionamento.


A partir dessa revelação coletiva, Solène e Hayes se assumiram publicamente enquanto casal. Mas, a pressão foi tão grande em torno deles, que ficou muito difícil sustentar. A filha de Solène sofria bullying na escola, além de toda a invasão de privacidade. Este contexto estava fazendo com que a filha de Solène adoecesse emocionalmente. Foi muito difícil para a sua filha lidar com toda a exposição, o assédio e os julgamentos que as pessoas faziam à mãe.


Diante disso, Solène decide terminar o relacionamento com Hayes, na intenção de preservar a sua filha. E por mais que seu motivo de proteger a saúde mental e emocional da filha seja incontestavelmente válido, fica para mim a pergunta: será que ela daria conta de sustentar essa relação - mesmo que não tivesse que se preocupar com a filha?



Até que ponto conseguimos viver nossa verdade em um ambiente de hostilidades?


Até que ponto conseguimos manter as nossas escolhas tendo o mundo inteiro contra nós?


Até que ponto conseguimos escutar a nossa própria voz quando tem um barulho externo ensurdecedor?


Rolo de filme de cinema

Uma outra fala de Solène que me marcou é quando ela diz que não sabia que a felicidade dela irritaria tanta gente.


Discussões sobre envelhecimento e, principalmente, envelhecimento das mulheres, são muito importantes para que nós possamos reivindicar o nosso direito de viver - e de envelhecer


Nós, enquanto pessoas humanas, apesar de sermos seres finitos, temos muita resistência em lidar com a ideia de fim inevitável. Além disso, a supervalorização do novo deixa pouco espaço para acolhermos o velho. Não é à toa que temos tanta dificuldade para aceitar o envelhecimento. E quando falamos de nós mulheres, ainda tem o agravante do imperativo da beleza e da juventude eterna.


Nesse contexto, envelhecer e mostrar as marcas da passagem do tempo são vistas como se fosse quase um crime, um erro a ser punido --- com marginalização, com discriminação e descarte fácil.


E nós precisamos falar sobre isso. Precisamos olhar pra isso. Precisamos olhar para nós mesmas e perceber de que forma tudo isso nos atravessa. Como isso impacta nas nossas escolhas e maneiras de viver a vida.


Quando será que nós, mulheres, teremos o direito de envelhecer?


Quando será que poderemos escolher, verdadeiramente, se queremos ou não fazer uso de procedimentos estéticos?


Quando será que teremos permissão integral para amar e sermos amadas em qualquer idade?


Quando será que poderemos existir sem culpa e ser quem somos - por inteiro?


Encerro por aqui, com o desejo de que as provocações da história de amor de Solène e Hayes tenham ampliado em você terrenos dispostos a acolher o seu próprio direito de amar e o direito de outras pessoas também. Que possamos construir, em comunhão, espaços onde caibam os diferentes modos de ser e onde o amor possa circular livremente entre nós --- e dentro de nós --- sem pedir licença para acontecer.


Até o próximo episódio!


Com amor, Marcelly



Este episódio do Podcast Morada do Sentir

está disponível em formato de áudio no Spotify e no Youtube



Você quer ampliar a sua permissão interna para amar? Faça terapia.

Eu posso te acompanhar com escuta, presença e profundidade.







Trilhas do Sentir — uma experiência da Morada do Sentir


Conheça também a Trilhas do Sentir: uma imersão sonora no universo da obra que me inspirou o episódio da Morada do Sentir que você acabou de acompanhar. Preparei esta seleção de músicas com afeto para ser uma companhia gentil — um convite para continuar sentindo a história. Deixe-se envolver e acolha o que toca o seu coração.


Ouça aqui mesmo ou no Spotify

*se aparecer pra você somente como prévia, no Spotify você ouve as músicas completas.



E se quiser sentir de perto essa história, o filme está disponível na Prime Video.


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